A visitação é gratuita, e acontece de 17 de julho a 3 de novembro de 2019.
O registro, feito na década de 1980, mostra a realidade do que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, na região da Amazônia Paraense. Em mais de cinquenta fotos, a exposição revela o cotidiano da mina de onde foram extraídas toneladas de ouro em mais de uma década de exploração. Pelas lentes do fotógrafo mineiro o visitante percorre a realidade da jazida, os trabalhadores em atividade, as condições precárias, e a “febre do ouro” que reuniu cerca de 50 mil garimpeiros no auge do período de extração.
Sebastião Salgado passou um mês no local registrando a chegada de pessoas de todos os cantos do Brasil, o ambiente imerso na brutalidade do trabalho, os sonhos de quem vinha para construir seu futuro e a esperança de encontrar um dos materiais mais cobiçados na história da humanidade. A exposição tem a curadoria e design de Lélia Wanick Salgado, esposa de Salgado, responsável pela editoria e organização de todo o trabalho de Sebastião Salgado, co-fundadora da agência Amazonas Images e do Instituto Terra. Ocupando um andar inteiro da Unidade e outro reservado para a ação educativa, “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada” tem entrada gratuita e permanece em cartaz até 3 de novembro de 2019.
Mina de Ouro Serra Pelada - ©Sebastiao Salgado
GOLD – MINA DE OURO SERRA PELADA
“O que dizer desse metal amarelo e opaco que leva homens a abandonar seus lares, vender seus pertences e cruzar um continente, a fim de arriscar suas vidas, seus corpos e sua sanidade por causa de um sonho?”
Sebastião Salgado
Um morro que se transformou em cratera e a cratera que se findou lago, assim foi o processo de exploração da mina de ouro conhecida como Serra Pelada. Desde sua descoberta em 1979, o local, na atual cidade de Curionópolis, chegou a receber 50 mil garimpeiros, de diversas partes do país, em busca do mesmo sonho: enriquecer. O “formigueiro humano”, que recebeu o título de maior mina a céu aberto do mundo, tinha um fluxo intenso de trabalho, com condições precárias e muitos olhos atentos.
Tudo o que era retirado da terra tinha roteiro e destino final, e cada metro quadrado um dono.
Com 200 metros de diâmetro e mesma profundidade, o garimpo era repartido em lotes de 2x3 metros, e os trabalhadores divididos segundo suas funções: meia-praça, cavador, apontador, apurador e o formiga.
Não eram permitidas mulheres, armas e álcool, sendo os policiais federais responsáveis por conter a violência.
Em 1986, neste ambiente de tensão e esperança, chegava na região Sebastião Salgado, fotógrafo que tinha no currículo trabalhos para agência Magnum e registros icônicos como o do atentado ao presidente norte-americano Ronald Reagan. Na exposição “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada” os visitantes reencontram esta história, na qual o mineral protagoniza momentos abruptos no itinerário antrópico: a movimentação de massas humanas, mudanças ambientais e marcas permanentes na sociedade.
Em 56 fotografias, é possível acompanhar o olhar de Salgado pelas diversas vidas que passaram, permaneceram ou se perderam no garimpo paraense.
- As trilhas encravadas na cratera,
- os garimpeiros com sacos de terra nas escadas de madeira (apelidadas sugestivamente de “adeus mamãe”),
- o sobe e desce de corpos cobertos de lama e suor,
- o desapontamento em cada vão aberto sem uma pepita achada e
- a euforia quando do encontro com um lampejo dourado.
A paisagem de Serra Pelada que Sebastião Salgado apresenta nesta exposição revela as aflições, alegrias e os anseios de um povo que largou suas vidas e suas famílias para irem desbravar uma terra com configurações inóspitas e de futuro incerto. “O ouro é um amante imprevisível. Enquanto alguns garimpeiros afortunados partiram da Serra Pelada com dinheiro, compraram fazendas e empresas e nunca se sentiram traídos, outros, que encontraram ouro e pensaram que havia mais fortunas esperando por eles, acabaram, por fim, perdendo tudo o que tinham obtido. Com o amigo do meu pai aconteceu isso. Ele achou 97 kg de ouro, reinvestiu seus ganhos em novos lotes e equipes adicionais de peões para, no fim, deixar a mina de mãos vazias” – comenta o fotógrafo.
Com curadoria e design de Lélia Wanick Salgado, fotografias inéditas guardadas há trinta anos chegam a público, revelando a dimensão e a egrégora por trás deste capítulo importante da história nacional. Serra Pelada permanece na memória coletiva e na visão de Sebastião Salgado como uma das mais impetuosas incursões humanas impelidas pela ambição.
“Por uma década, ela evocou o El Dorado há muito prometido, mas, atualmente, essa corrida do ouro mais selvagem que o Brasil já teve se tornou apenas uma lenda, que permanece viva por meio de algumas lembranças felizes, muitos arrependimentos dolorosos — e fotografias”.
GOLD
A exposição compartilha do lançamento do livro “Sebastião Salgado – Gold”, pela Editora Taschen, que reúne o portfólio completo de Sebastião Salgado feito em Serra Pelada. A publicação acompanha pictoriamente a trajetória do fotógrafo a partir da autorização para visitar o garimpo, em setembro de 1986, após ter sido negada por seis anos pelas autoridades militares brasileiras.
A opção pelo preto e branco marca um retorno à fotografia monocromática, seguindo uma tradição de nomes como Edward Weston, George Brassaï, Robert Capa e Henri Cartier-Bresson, que definiram o início e o meio do século XX. "Em toda a minha carreira no The New York Times", lembrou o editor de fotografia Peter Howe, "nunca vi editores reagirem a nenhum conjunto de imagens como fizeram com Serra Pelada". Tanto no livro quanto na exposição, é perceptível a concretude do trabalho de Salgado, o que o torna vivamente contemporâneo. Com mais de duzentas páginas a publicação traz um prefácio do próprio fotógrafo e um ensaio do escritor e jornalista Alan Riding. A publicação pode ser adquirida nas Lojas Sesc e o lançamento acontece no dia 17 de julho, com a assinatura do fotógrafo, na própria Unidade.
PROGRAMAÇÃO INTEGRADA
A exposição contempla ainda uma programação integrada, com cursos, oficinas, e atividades para diversos públicos sobre o pensar e o fazer fotográfico.
Os temas abordam desde parâmetros históricos como técnicos, apresentando ao público visões distintas sobre a fotografia.
Fotojornalismo, fotografia documental e História da Fotografia Brasileira estão entre as abordagens que a programação integrada oferece até final da exposição, correlacionando ainda aspectos socioambientais e históricos relacionados à Serra Pelada.
Sebastião Salgado nasceu em 1944 em Minas Gerais, Brasil, e vive em Paris, França. É casado com Lélia Wanick Salgado. Eles têm dois filhos e dois netos. Formado em economia, Salgado começou sua carreira como fotógrafo profissional em 1973, em Paris, e trabalhou com agências de fotografia - dentre as quais a Magnum Photos - até 1994, quando ele e Lélia Wanick Salgado fundaram a Amazonas Images, dedicada exclusivamente à sua obra.
Ele viajou por mais de 100 países para desenvolver seus projetos fotográficos.
Além das publicações na imprensa, sua obra foi apresentada em livros como Other Americas [Outras Américas] (1986), Sahel: l'homme en détresse (1986), Sahel: el fin del camino (1988), Workers [Trabalhadores] (1993), Terra (1997), Migrations [Êxodos] e Portraits [Retratos de crianças do êxodo] (2000), Africa (2007), Genesis (2013), The Scent of a Dream [Perfume de sonho] (2015), Kuwait, a desert on fire (2016) e Gold (2019). Todos esses livros foram editados, concebidos e tiveram seu projeto gráfico elaborado por Lélia Wanick Salgado.
Desde 1990, Lélia e Sebastião vêm trabalhando juntos na recuperação de parte da Mata Atlântica brasileira, no estado de Minas Gerais. Em 1998, conseguiram tornar essa área uma reserva natural e criaram o Instituto Terra. A missão do Instituto é voltada ao reflorestamento, à conservação e à educação ambiental.
Acessibilidade
A exposição conta com recursos de acessibilidade como apoio da equipe educativa, mapa tátil do andar, piso podotátil e uma maquete da Serra Pelada. Além disso, o app Musea traz conteúdos da exposição em videolibras e audiodescrição de obras.
O app
Musea está disponível para download gratuito na App Store e no Google Play.
Agendamento
Para agendamento de grupos com mais de 15 pessoas, por favor entrar em contato pelo e mail: agendamento@avenidapaulista.sescsp.org.br