‘Não se deve romantizar os terroristas’, diz rabino de Entebbe
Sonia Racy
18 Abril 2018 | 01h00 Estadão
O rabino brasileiro Raphael Shammah tinha 16 anos quando o avião da Air France em que viajava, que ia de Tel-Aviv para Paris, foi sequestrado em julho de 1976, pelo grupo alemão Baader Meinhof e pela Frente Popular de Libertação da Palestina. O caso é enredo do novo filme de José Padilha, Sete Dias em Entebbe – já em cartaz no País. Em rara entrevista, o sobrevivente respondeu a perguntas da coluna por e-mail.
Assistiu ao filme do Padilha?
Assisti apenas a partes. Uma visão diferente, talvez válida como arte, mas inconcebível do ponto de vista ético. Quero dizer que o lado pessoal de um terrorista não deve ser romantizado, se isso significar de alguma forma justificar seus atos.
O senhor foi procurado para a pesquisa do filme?
Desta vez não, mas minha história já foi muito divulgada. O que posso dizer é que eu também tive um episódio real, no qual o terrorista alemão, de Entebbe, mostrou-se um ser humano sensível.
O que aconteceu então?
No quinto dia do sequestro, uma quinta-feira, após sermos chamados no segundo grupo de pessoas a ser libertado, já estávamos na fila para sair e, de repente, um dos terroristas palestinos nos mandou voltar. Eu, um amigo e um casal de americanos. Ficamos apavorados e tensos. Lembro que o terrorista alemão chegou do nosso lado, tentou nos acalmar. Disse para não nos preocuparmos. Mas esta postura não apaga a ameaça feita pelo grupo de que, domingo de manhã, começariam a executar um refém a cada hora, caso Israel não liberasse 31 terroristas.
Passados os anos, o que foi mais marcante no episódio?
Durante o sequestro prometi que, se Deus me tirasse vivo dali, dedicaria três anos de minha vida a fazer o bem para os outros. Tarefa na qual mais tarde me empenhei em projeto educacional que nunca mais larguei. Ou seja, para mim o episódio foi um marco que me direcionou para o trabalho comunitário. Talvez essa seja a antítese do terrorismo, que busca usar a vida dos outros para alcançar seus interesses. Tento usar a minha vida para servir ao bem de outros.
Depois do sequestro o senhor voltou a viajar de avião?
Nas primeiras vezes deu “frio na barriga”, mas me acostumei. Acho que todos os nossos passos são dirigidos por Deus. Com esse pensamento aprendi a dominar o medo de qualquer experiência.
Como vê os atos terroristas no mundo hoje?
Em comparação aos anos 70 e 80, acho que a opinião pública amadureceu e vê com olhos mais críticos os atos contra inocentes. É verdade que, na Irlanda e no País Basco, o terrorismo cessou. O assunto se concentra hoje no choque entre a civilização ocidental e a islâmica. Mas sou otimista. Acredito que, apesar de todas as dificuldades, a humanidade está caminhando rumo a dias em que “não levantarão mais um povo contra outro sua espada.” E nem terroristas contra civis. /MARILIA NEUSTEIN
Assistiu ao filme do Padilha?
Assisti apenas a partes. Uma visão diferente, talvez válida como arte, mas inconcebível do ponto de vista ético. Quero dizer que o lado pessoal de um terrorista não deve ser romantizado, se isso significar de alguma forma justificar seus atos.
O senhor foi procurado para a pesquisa do filme?
Desta vez não, mas minha história já foi muito divulgada. O que posso dizer é que eu também tive um episódio real, no qual o terrorista alemão, de Entebbe, mostrou-se um ser humano sensível.
O que aconteceu então?
No quinto dia do sequestro, uma quinta-feira, após sermos chamados no segundo grupo de pessoas a ser libertado, já estávamos na fila para sair e, de repente, um dos terroristas palestinos nos mandou voltar. Eu, um amigo e um casal de americanos. Ficamos apavorados e tensos. Lembro que o terrorista alemão chegou do nosso lado, tentou nos acalmar. Disse para não nos preocuparmos. Mas esta postura não apaga a ameaça feita pelo grupo de que, domingo de manhã, começariam a executar um refém a cada hora, caso Israel não liberasse 31 terroristas.
Passados os anos, o que foi mais marcante no episódio?
Durante o sequestro prometi que, se Deus me tirasse vivo dali, dedicaria três anos de minha vida a fazer o bem para os outros. Tarefa na qual mais tarde me empenhei em projeto educacional que nunca mais larguei. Ou seja, para mim o episódio foi um marco que me direcionou para o trabalho comunitário. Talvez essa seja a antítese do terrorismo, que busca usar a vida dos outros para alcançar seus interesses. Tento usar a minha vida para servir ao bem de outros.
Depois do sequestro o senhor voltou a viajar de avião?
Nas primeiras vezes deu “frio na barriga”, mas me acostumei. Acho que todos os nossos passos são dirigidos por Deus. Com esse pensamento aprendi a dominar o medo de qualquer experiência.
Como vê os atos terroristas no mundo hoje?
Em comparação aos anos 70 e 80, acho que a opinião pública amadureceu e vê com olhos mais críticos os atos contra inocentes. É verdade que, na Irlanda e no País Basco, o terrorismo cessou. O assunto se concentra hoje no choque entre a civilização ocidental e a islâmica. Mas sou otimista. Acredito que, apesar de todas as dificuldades, a humanidade está caminhando rumo a dias em que “não levantarão mais um povo contra outro sua espada.” E nem terroristas contra civis. /MARILIA NEUSTEIN
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