segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Bairro da Liberdade: cultura oriental no centro de São Paulo


Bairro da Liberdade: cultura oriental no centro de São Paulo

No último mês se comemorou 110 anos da imigração japonesa no Brasil! No dia 18 de junho de 1908, 781 imigrantes japoneses chegaram ao porto de Santos a bordo do navio Kasato Maru.
Hoje Essepê te leva para conhecer o bairro da Liberdade, conhecido como o bairro oriental de São Paulo, com seus templos, supermercados, academias de artes, estabelecimentos e uma enorme variedade de restaurantes.
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Passeando hoje pela Liberdade, é difícil imaginar que até o século XIX o bairro era tomado por chácaras com plantações de chá e bosques de jabuticabeira. Pois é! O cenário mudou drasticamente e a região passou a ser habitada por imigrantes italianos e portugueses. Só depois chegaram os imigrantes japoneses.
Pelé Beijoqueiro
“Pelé Beijoqueiro” e semáforo com a imagem das luminárias “suzurantô” (esquina da Galvão Bueno com a Barão de Iguape)
“A necessidade da emigração por parte dos japoneses se deu por causa de uma superpopulação no país no início do século XX, somada a uma escassez de alimentos e um alto nível de desemprego causado pela mecanização da agricultura. Assim, o Brasil, que buscava mão de obra para o trabalho agrícola (principalmente nas plantações de café do interior paulista), foi um dos principais destinos para esses emigrantes.” (Biblioteca Mario de Andrade)
O Museu Histórico da Imigração Japonesa, no 7º, 8º e 9º andar do prédio da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Rua São Joaquim, 381) conta a história com mais detalhes. Hoje só o 7º andar estava aberto, pois os outros dois estavam em reforma, por isso a entrada foi gratuita. Normalmente são 12 reais. Quando o museu estiver pronto, faço um post exclusivo para ele! 😉
Kasato-Maru no Museu da Imigração Japonesa
Kasato-Maru: Miniatura do navio que aportou em Santos em 1908 trazendo os primeiros 781 imigrantes japoneses
Muitos dos japoneses que foram trabalhar nas lavouras de café não suportaram a carga de trabalho nas fazendas do interior, então vieram para São Paulo e aqui se adaptaram aos serviços da cidade (marceneiros, pintores, caseiros etc.).
“O primeiro ponto de encontro dos japoneses que vinham da lavoura para a cidade, foi uma casa alugada pelo Comercial Fujikasi, na Rua de São Paulo nº 20, transformada numa espécie de pensão, por um casal que preparava as refeições para os funcionários daquela empresa. Havia uma marcenaria no nº 15, um pessoal vindo de Kagoshima. No nº 41 da Rua dos Estudantes, pessoal da província da Fukushima. Todos esses serviam como alojamentos. Eram pequenos quartos nos porões, ocupados às vezes por seis, até oito pessoas.” (Feira da Liberdade)
Darumá
Darumá no jardim oriental
E foi assim que nasceu a cultura oriental – a princípio apenas japonesa – na cidade de São Paulo. As crianças podiam frequentar escolas de ensino do idioma em japonês, começaram a ser fabricados shoyo, tofu e outros produtos de origem japonesa, eram publicados jornais escritos em japonês, jogava-se yakyu (beisebol)…
A colônia japonesa vivia razoavelmente bem até o Governo de Vargas romper as relações diplomáticas com o Japão após o início da guerra do Pacífico, em 1942. Por conta disso, o Consulado Geral do Império do Japão em São Paulo foi fechado e foi decretada a expulsão dos imigrantes japoneses que aqui residiam. A situação se normalizou somente após a rendição do Japão na Segunda Grande Guerra, em 1945.
Praça da Liberdade
Semáforo com o símbolo do arco da Liberdade e Banco Bradesco, ao fundo, com arquitetura asiática
Para quem ainda não conhece a Liberdade, não pode deixar de passar pela Rua Galvão Bueno! É a principal rua do bairro e o paraíso das lojinhas. Aqui você vai encontrar cosméticos, comidinhas, papelarias, utensílios domésticos, quinquilharias, livrarias… enfim! A grande variedade de produtos é o ponto forte das lojas, mas já aviso que o preço é bem salgadinho… :/
Maruso
Mercado Maruso na Praça da Liberdade: cheguei no paraíso!
A rua passou a ser o principal ponto de comércio da Liberdade após a inauguração do famoso Cine Niterói, em 1953, e no seu entorno várias lojas começaram a abrir. O cinema exibia semanalmente filmes produzidos no Japão. Nas décadas de 50 e 60, o programão de domingo das famílias japonesas era almoçar num restaurante – japonês, claro! – e depois pegar um cineminha. O Cine Niterói foi o pioneiro, mas depois foram abertas mais três salas de cinema: Nippon (Rua Santa Luzia),  Joia (Praça Carlos Gomes) e Tóquio (Rua São Joaquim).
Praça da Liberdade
Praça da Liberdade com a feirinha ao fundo
O estilo oriental do bairro da maneira como o conhecemos hoje foi, na verdade, planejado para fins turísticos, sabiam? A ideia era transformar a Liberdade numa espécie de China Town (que nem em Nova Iorque ou em São Francisco), e na década de 70 o projeto foi colocado em prática, mesma década em que a estação de metrô Liberdade foi construída. As principais ruas do bairro – Galvão Bueno, Tomás Gonzaga, Estudantes e Glória – receberam as lanternas “suzurantô” (essas vermelhinhas que dão todo o charme do bairro).
Suzurantô
Suzurantô: as luminárias mais charmosas de São Paulo
O bairro deixou de ser um reduto exclusivo dos japoneses e passou a ser procurado também por chineses e coreanos, dentre outros imigrantes vindos de países asiáticos. Por isso a fama de bairro oriental de São Paulo.
A grande atração da Liberdade é a Feira Oriental na Praça da Liberdade (logo na saída do metrô) que começou a ser organizada em 1975.
Feirinha
Parte da feirinha que serve comida
Ao caminhar pela feirinha abarrotada de gente nem dá para imaginar que ali criminosos foram condenados à forca nos tempos imperiais. Por isso, antes de ser Praça da Liberdade, era Largo da Forca ou Praça dos Enforcados. E antes das multidões serem formadas por turistas e visitantes, era de pessoas curiosas para assistir aos enforcamentos. No cemitério dos enforcados foi construída uma pequena igreja, em 1774, para consolar as almas aflitas que está lá até hoje!
A feira começa a ser montada a partir das 9h (também aos sábados). A princípio, foi criada para expor trabalhos dos imigrantes orientais, mas hoje em dia encontramos de tudo. Além de produtos típicos, também encontramos sabonetes, velas, artigos em couro, bijuterias, plantas, esculturas, quadros… enfim! Tudo aquilo que nenhuma feirinha que se preze pode deixar de ter.
O maior destaque é a culinária. E taca-lhe óleo nessa feirinha, Marcos! Esquece a dieta. É domingo! Escolha a fritura de sua preferência, pegue um banquinho e sente no chão. Ou na escada no metrô. Ou em qualquer metro quadrado que você tiver a sorte de encontrar. E bom proveito! 🙂
Ou faça como eu e escolha um dos milhares restaurantes asiáticos para experimentar algo totalmente diferente. No meu caso, foi esse hot pot vegano no Top Pot (Rua da Glória, 288), um restaurante Taiwanês super fofo. Inclusive a forma de comer foi inusitada para mim. A comida vem mergulhada num caldo fervendo com o fogo ligado e tudo! Quando você achar que o ponto está bom, peça para o garçom desligar e voilà! Sirva-se da maneira que melhor lhe convier. Eu fui pegando os leguminhos, um de cada vez, passando no molho de gergelim e comendo com o arroz. Comi o harusame (aquele macarrão transparente) no final. Aprovado!
Top Pot
Hot pot vegano
Fonte: Na Essepê

NATHALIA SARTARELLO


Paulistana entusiasta de fotografia à caça de roteiros culturais e gastronômicos.
Site maravilhoso com excelentes reportagens e fotografias idem.

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