terça-feira, 9 de maio de 2017

O que tem nos alimentos industrializados que consumimos?


O que tem nos alimentos industrializados que consumimos?

André Carvalho
Do UOL, em São Paulo
04h00
  • Lucas Lima/UOL
    Bolacha recheada é um alimento industrializado que contém uma série de aditivos alimentares
    Bolacha recheada é um alimento industrializado que contém uma série de aditivos alimentares
Você sabe o que tem em um alimento industrializado? Além das matérias-primas naturais, a lista de ingredientes impressa nas embalagens de produtos que consumimos traz algumas siglas e nomes que podem causar estranheza.
Os aditivos alimentares, substâncias --naturais ou químicas-- que são permitidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), estão presentes em muitos produtos da sua geladeira. Mas para que servem?
"Os aditivos são adicionados nos alimentos industrializados para trazer algumas características de sabor, cor, melhorar a conservação, para fazer com eles não oxidem, entre outras coisas", explica a nutricionista Elga Batista, professora da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).
De acordo com a Anvisa, existem atualmente cerca de 350 aditivos autorizados para uso em alimentos no Brasil. 
A nutricionista Georgia Silveira de Oliveira coloca os corantes artificiais como substâncias potencialmente alérgicas. Cabe lembrar que em 2016 a Anvisa determinou que os alimentos tragam em seus rótulos dados alertando sobre a presença de alergênicos.
Batista recomenda que a população dê prioridade, sempre que possível, para os alimentos in natura por terem mais nutrientes e substâncias capazes de atuar na redução do risco de doenças que alimentos industrializados. 

O que tem nos alimentos industrializados que consumimos?

A reportagem do UOL listou ingredientes presentes em alguns produtos industrializados bastante consumidos no Brasil, e descreve para que serve cada substância.
Na hora de ler as pequenas letras da embalagem, a primeira coisa a saber é que a ordem em que aparecem no rótulo é por quantidade do produto - sendo a primeira a que aparece em maior quantidade na sua composição.
Além dos ingredientes, é importante prestar atenção na tabela nutricional do alimento, que indica a quantidade de gordura, carboidratos, vitaminas e açúcares, entre outras coisas, e o valor de consumo diário recomendado.

Refrigerante de cola

Lucas Lima/UOL
Água gaseificada, açúcar, extrato de noz de cola, cafeína, corante caramelo IV, ácido fosfórico e aroma natural.
O caramelo IV é um corante artificial muito usado em refrigerantes à base de cola e de guaraná. Já o ácido fosfórico, de acordo com a nutricionista Elga Batista, é o produto que provoca "a leve sensação de formigamento que esse tipo de bebida promove na boca". 

Chocolate ao leite

Lucas Lima/UOL
Açúcar, massa de cacau, leite integral em pó, manteiga de cacau, permeado de soro de leite em pó, gordura vegetal, gordura anidra de leite, soro de leite em pó, leticina de soja, poliglicerol de polirricinoleato e aromatizante.
Aqui, a leticina de soja e o poliglicerol polirricinoleato são usados como emulsificantes. Esses produtos servem para deixar a massa do chocolate com textura uniforme e ajudam na solidificação da barra após seu processamento. 
Já a gordura anidra aumenta o sabor do alimento. "A gordura anidra é comumente usada em chocolates industrializados para potencializar o sabor e a sensação na boca promovida por esse alimento", explica Batista.
Ela alerta, porém, que o consumo de alimentos que contêm essa matéria-prima deve ser evitado "principalmente por obesos e pessoas com colesterol alto". Isso se deve, explica a nutricionista, pelo fato de ela ser rica em gordura trans e saturadas, "substâncias relacionadas ao ganho de peso e às dislipidemias (colesterol alto)". Batista afirma que a gordura anidra "não é necessariamente 'pior' que uma gordura vegetal hidrogenada, por exemplo, mas é 'pior' que a manteiga".

Lasanha congelada

Lucas Lima/UOL
Água, amido modificado, leite em pó, margarina, queijo processado gorgonzola, queijo provolone, requeijão cremoso, queijo parmesão, açúcar, sal, salsa, aipo, cebola, alho, pimenta-do-reino, pimenta branca, soro de leite, fécula de mandioca, queijo, creme de milho, gordura vegetal de soja, proteína vegetal de soja, extrato de levedura, glutamato monossódico, aroma idêntico ao natural de queijo, aroma natural de galinha, corante idêntico ao natural caramelo IV, farinha de arroz, farinha de trigo enriquecida com ferro e acido fólico, óleo de soja, noz-moscada, frango, aroma idêntico ao natural de frango, aroma idêntico ao natural de manteiga, corante natural cúrcuma, clara de ovo, ovo, queijo muçarela, amido sabor muçarela, produto processado à base de massa para elaborar queijo muçarela com gordura vegetal, leite concentrado pasteurizado, acido lático, cloreto de cálcio, fermento lácteo, coalho, gordura vegetal hidrogenada, concentrado proteico de leite, concentrado proteico de soro, cloreto de sódio, aroma idêntico ao natural de muçarela, polifosfato de sódio, ácido cítrico, goma jataí, sorbato de potássio e corante natural de urucum.
"Este é um clássico exemplo de alimento ultraprocessado, repleto de aditivos alimentares", afirma Batista. Há na lasanha congelada gordura vegetal hidrogenada, uma matéria-prima rica em gordura trans e  "muito relacionada a doenças cardiovasculares" --há no total, 3 gramas de gordura trans no produto (ou 0,5% do total de 660 g).
Também estão presentes quatro aditivos com sódio, elemento "relacionado à hipertensão arterial": polifosfato de sódio, sorbato de sódio, cloreto de sódio e glutamato monossódico. 
O polifosfato de sódio é usado para estabilizar a textura do alimento, ao passo que o sorbato de sódio é um conservante usado para prolongar a vida útil da lasanha, retardando o crescimento de microrganismos que causam sua deterioração. A nutricionista também alerta para a grande quantidade de ácidos, corantes, aromatizantes e conservantes no alimento.
Em 300g do produto, há 14 gramas de gorduras totais, o equivalente a um quarto do consumo recomendado para um adulto por dia.

Salgadinho

Wikimedia
Batata, óleos vegetais, cebola, salsa, soro de leite, sal, pimenta branca, farinha de arroz, cloreto de potássio, maltodextrina, amido, glutamato monossódico, dióxido de silício, corante caramelo IV e corante natural de urucum.
Um aditivo presente aqui é o glutamato monossódico, um realçador de sabor à base de sódio, cujo consumo deve ser controlado para hipertensos e pessoas com doenças renais.
Para manter a crocância do salgadinho, é usado o umectante dióxido de silício; já a maltodextrina serve para melhorar a estrutura do alimento.
Já os óleos vegetais, "embora possam promover benefícios à saúde, neste caso têm tal potencialidade anulada, já que os mesmos são empregados para a fritura do salgadinho", diz Batista.
A nutricionista explica que isso ocorre porque estes óleos "promovem benefícios à saúde desde que não sejam aquecidos em temperaturas superiores a 180°C". E para que esse tipo de preparo possibilite a elaboração de alimentos sensorialmente atrativos, diz Batista, "geralmente é necessário usar temperaturas superiores a 200° C" em sua fritura.
Cada 25 gramas do produto (1 xícara e meia) têm 9,7 gramas de gorduras totais, ou 18% do total recomendado por dia para um adulto.

Suco de tangerina de caixinha

IStock
Água, açúcar, suco concentrado de tangerina, ácido cítrico, aroma natural, ácido ascórbico, maltodextrina, vitaminas C, B3, B6, B2 e B12, ácido fólico, zinco, corante caroteneo e antiespumante.
Nesse caso, o suco tem açúcar adicionado além daquele proveniente do suco de fruta natural. Em um copo de 200 ml de suco, há 22 gramas de açúcar. 
A bebida feita de tangerina tem adição de ácido cítrico para regular seu pH e, assim, reduzir sua acidez. Já o ácido ascórbico atua como antioxidante, sendo empregado para reduzir o risco de escurecimento do produto. Também está presente aqui um antiespumante, cujo próprio nome já indica, útil durante a fabricação do produto.
Já o ácido fólico, o zinco e as vitaminas C, B3, B6, B2 são nutrientes adicionados de forma voluntária ao produto, com o objetivo de enriquecê-lo nutricionalmente. Para Batista, porém, não é correto afirmar que "uma versão industrializada de um produto possui maior qualidade nutricional que um suco artesanal, não industrializado".

Leite UHT Integral

Lucas Lima/UOL
Leite integral padronizado, trifosfato de sódio, difosfato de sódio e monofosfato de sódio.
"Esse tipo de produto tem restrições quanto ao uso de aditivos", afirma Batista, explicando que a legislação brasileira proíbe o uso de substâncias como corantes, aromatizantes e edulcorantes no leite industrializado.
O trifosfato de sódio, difosfato de sódio e monofosfato de sódio são estabilizantes e servem para evitar a sedimentação do leite. "Um prejuízo do consumo de alimentos industrializados é a presença excessiva de sódio, mineral que compõe vários aditivos, como é o caso do leite", afirma Batista.

Bolacha de leite recheada com chocolate

Lucas Lima/UOL

Farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura vegetal, óleo vegetal, cacau, carbonato de cálcio e sulfato de zinco, amido de milho resistente, leite integral em pó, soro de leite, sal, amido, bicarbonato de amônio, bicarbonato de sódio, pirofosfato dissódico, aromatizantes, lecitina de soja, ésteres de mono e diglicerídeos de ácidos graxos com ácido diacetil tartárico e mono e diglicerídeos de ácidos graxos, corante caramelo III e corantes naturais carmim e clorofila cúprica.
Os estabilizantes são aditivos alimentares que servem para impedir a separação dos ingredientes usados nos alimentos industrializados. Aqui, estão presentes, com esta função, os ésteres de mono e diglicerídeos de ácidos graxos com ácido diacetil tartárico e mono e diglicerídeos de ácidos graxos. 
O pirofosfato dissódico, por sua vez, é um emulsificante, que mantém a homogeneidade da bolacha, enquanto o bicarbonato de sódio tem a função de melhorar a textura da massa do biscoito.
O segundo ingrediente em maior quantidade no produto é o açúcar. Em três biscoitos (30 gramas), são 9 g de açúcar. Além disso, essa porção é responsável por 9% do consumo diário de gordura recomendado.
Há, ainda, no alimento, nutrientes adicionados de forma voluntária como ácido fólico, carbonato de cálcio e sulfato de zinco. "Trata-se de uma estratégia para melhorar a qualidade nutricional do produto, mesmo sem que isso seja obrigatório segundo a legislação", explica Batista.
"Dessa forma a indústria pode usar a informação sobre essa adição em suas propagandas, difundido a ideia de que seu produto é diferente das demais bolachas, possui ácido fólico, cálcio e zinco em sua composição."

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